O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse que é preciso que o mundo reúna US$ 1,3 trilhão para enfrentar as mudanças climáticas, sob o risco de “criar um apartheid climático” caso isso não aconteça.
“Sem mobilizar US$ 1,3 tri para o enfrentamento da mudança do clima, corremos o risco de criar um apartheid climático. Eu estive na COP15, na Dinamarca, quando os países mais desenvolvidos prometeram uma contribuição financeira de US$ 100 bi para ajudar os países que ainda têm floresta em pé a manter a floresta em pé”, declarou.
O presidente voltou a dizer que “embaixo de cada árvore deve ter um indígena, um pescador, um extrativista, um pequeno produtor rural, e é importante a gente garantir a essa gente o direito de se manter na floresta vivendo com o mínimo de qualidade de vida”.
Lula afirmou que “chegou a hora de todos cumprirmos as promessas sobre o clima”. Voltou a falar que os países ricos precisam financiar os mais pobres que ainda têm florestas em pé.
O presidente brasileiro, porém, cobrou que a França faça parte do polo doador aos países menos desenvolvidos, ainda que os franceses tenham parte de seu território na Amazônia por meio da Guiana Francesa.
“Daí porque é preciso que haja recursos dos países desenvolvidos. A França não pode entrar na partilha desse dinheiro por causa da Guiana Francesa, porque a Guiana está na parte mais pobre do mundo, mas a França está na parte mais rica, então a França não é receptora, tem que ser doadora do dinheiro”, declarou.
Macron diz que acordo UE-Mercosul ‘comporta risco para agricultores europeus’ e Lula rebate
O presidente da França, Emmanuel Macron, disse que o acordo entre a União Europeia e o Mercosul “comporta um risco para os agricultores europeus” e que “os países do Mercosul não estão no mesmo nível de regulamentação” que a imposta na Europa.
Esse seria um entrada, na visão do presidente francês, para a assinatura do acordo. O presidente Lula respondeu dizendo que nenhum outro presidente no mundo defende mais o meio ambiente que ele.
Lula e Macron deram entrevista coletiva à imprensa após reunião que teviveram em Paris nesta quinta-feira (5/6).
Macron disse que a França “é a favor do comércio livre e equitativo” e que ele próprio defendeu “acordos que conseguem melhorar, mas justamente por serem acordos que permitem baixar as tarifas, eles o fazem de uma maneira justa”.
“Agora, esse acordo (UE-Mercosul), nesse momento estratégico, é bom para muitos setores, mas comporta um risco para os agricultores europeus. Na Europa, por princípios que o presidente Lula e seu governo, a ecologia, reduzir a emissão de CO2, proteger a biodiversidade, proibimos aos nossos agricultores utilizar esses agrotóxicos, por exemplo, (para) respeitar mais o meio ambiente”, declarou
“Mas os países do Mercosul não estão no mesmo nível de regulamentação. É uma discrepância. Não é uma discrepância de competitividade e competitividade de qualidade, mas uma discrepância na regulamentação”, reforçou.
Macron disse ser preciso “aprimorar o acordo, trabalhar para termos cláusulas de segurança, de espelho, para que nesse setor consigamos (avançar)”.
O presidente brasileiro, por sua vez, disse que seu governo tem compromisso com o meio ambiente e a redução do desmatamento. Citou sua ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), e fez uma brincadeira de que ela é “magrinha” de tanto trabalhar.
“Pode ter no mundo alguém preocupado com o meio ambiente igual ao meu governo, mas não tem ninguém melhor. Pode ter no mundo alguém que tem uma ministra que apanha todo dia da imprensa por tentar cuidar do país e do clima, mas não tem (ninguém) melhor que a ministra Marina”.
Apesar do tom bem humorado em alguns momentos de sua fala, Lula foi enfático ao pedir a Macron que não haja dúvidas sobre o compromisso do governo brasileiro com a redução do desmatamento.
Também citou produtos importados da França pelo Brasil que também são produzidos em solo brasileiro — e nem por isso inviabilizam o acordo com a União Europeia.
“Embora o Brasil esteja se transformando em um país produtor de vinho, estamos facilitando a exportação de vinhos franceses. Embora o Brasil seja produtor de queijos, não queremos competir com os champanhes franceses.”
“Queria pedir ao Macron uma coisa muito séria. Não permita que nenhum país europeu coloque dúvida sobre a defesa que o Brasil faz para diminuir o desmatamento no Brasil. Vocês conhecem o território brasileiro, temos cinco biomas muito importantes, e os tratamos como nossa própria cama, queremos bem cuidados e bem preservados”, afirmou.
“Agora, é um território de 8,5 milhões de km2. Não é fácil de controlar. Meu país tinha sido quase destruído. O Ibama tinha 700 funcionários a menos do que em 2010”, explicou.
Lula disse que “não é difícil fazer o acordo”. Afirmou que ele próprio se apresenta a conversar com agricultores franceses “para mostrar que eles vão ganhar com o acordo UE-Mercosul, estou elaborado de que vão ganhar”. Ainda afirmou que ele próprio era contra a globalização e o livre comércio em 1980, quando iniciou sua carreira política, mas foi reforçado do contrário.
“(Esse acordo) é uma resposta àqueles que não querem mais o multilateralismo. Nós não queremos voltar ao protecionismo. Em 1980, eu convenci que era preciso ter livre comércio.UEera contra. Do que era preciso a globalização. Eu era contra. Depois que o Brasil entrou, agora os que propuseram não querem mais porque somos competitivos? Isso não vale”, afirmou.